GT Racismo do MPPE marca seus 20 anos com debate sobre o racismo estrutural e homenagens a personalidades da luta antirracista

13/12/2022 - "O Grupo de Trabalho de Enfrentamento ao Racismo Institucional do Ministério Público de Pernambuco (GT Racismo/MPPE) é um trabalho de formiguinha que ganhou o mundo. Um trabalho que partiu de uma grande escuta dos movimentos sociais e que seguimos construindo, em constante adaptação diante dos novos desafios". Dessa maneira, a procuradora de Justiça aposentada Maria Bernadete Figueiroa, fundadora e ex-coordenadora do GT Racismo do MPPE, resumiu os 20 anos do grupo, completados no dia 10 de dezembro de 2022.

Durante a última segunda-feira (12), o MPPE realizou dois eventos para marcar e celebrar o GT Racismo, iniciativa pioneira no MP brasileiro e que vem atuando para fomentar o debate sobre o racismo dentro e fora dos muros da Instituição.

O primeiro deles foi a entrega da intervenção artística "Nossos passos vêm de longe", um mural realizado em todo o muro lateral da sede das Promotorias de Justiça da Capital (Edifício Paulo Cavalcanti). A obra foi idealizada e executada pela artista Nathê Ferreira e equipe.

Entrega da intervenção artística de Nathê Ferreira no muro do Ed. Paulo Cavalcanti - 20 anos do GT Racismo

"Hoje é um dia de comemorar os avanços da nossa Instituição, pois os 20 anos do GT Racismo são 20 anos de aprendizado. Perceber que estamos carregados do racismo estrutural, em palavras e atitudes, é um passo para combatê-lo. Parabenizo a artista Nathê por traduzir em imagens casos tão emblemáticos do racismo no nosso dia-a-dia", ressaltou o procurador-geral de Justiça, Marcos Carvalho.

Já a procuradora de Justiça Maria Ivana Botelho, uma das coordenadoras do GT Racismo, apontou que a conscientização sobre o racismo no Brasil é um trabalho perene e que é obrigação do Ministério Público atuar nesse sentido.

Durante a inauguração do mural, Nathê Ferreira afirmou que a pintura do mural foi um trabalho de militância. "O grafite é uma arte marginalizada, expressão das pessoas pretas e periféricas. Hoje estamos ocupando um espaço muito relevante, trazendo para o muro lateral do Ministério Público, na rua Gervásio Pires, o desafio de falar do racismo de forma leve e didática. É uma revolução, e durante o processo de pintura a gente sentiu isso, porque as pessoas paravam para falar com a gente, as crianças apontavam para os desenhos e se sentiam representadas", descreveu.

No período da tarde, por sua vez, o MPPE recebeu a promotora de Justiça do MP da Bahia e coordenadora do Grupo de Trabalho Enfrentamento ao Racismo e Respeito à Diversidade Étnica e Cultural da Comissão de Defesa dos Direitos Fundamentais do Conselho Nacional do Ministério Público, Lívia Sant'Anna Vaz, para ministrar a palestra "O racismo estrutural no âmbito do Ministério Público".

Em sua fala, Lívia Vaz traçou um panorama de como o conceito de Direitos Humanos se insere numa perspectiva de "embranquecimento" do conhecimento, já que nos próprios cursos de Direito não são discutidos saberes históricos dos povos africanos e indígenas.

A palestrante também alertou para a necessidade de se buscar uma compreensão interseccional da realidade social, uma vez que a questão racial permeia a própria construção do arcabouço legal brasileiro, o que fica evidente ao se verificar a desproporcionalidade com que a violência, o encarceramento em massa, a letalidade policial, o feminicídio, a pobreza e a expectativa de vida impactam pessoas negras e brancas.

"Não podemos mais tratar o racismo como algo periférico. A raça é fator determinante nas desigualdades. É por isso que temos que monitorar continuamente, como membros do MP, a aplicação das leis do ensino da história africana e indígena nas escolas; a aplicação das leis de cotas em universidades e concursos; somente atacando as estruturas é que podemos quebrar essa lógica de manutenção dos privilégios da branquitude", defendeu.

Por fim, a promotora de Justiça Helena Capela destacou que a luta pelo fim do racismo e da discriminação é essencial para a busca de uma sociedade verdadeiramente democrática.

Homenagem - após a palestra, os integrantes do GT Racismo entregaram placas comemorativas a 20 pessoas que contribuíram, ao longo da trajetória do GT, para as lutas antirracistas nas mais diversas áreas, como no Direito, na Saúde, defesa da liberdade religiosa, dentre outras.

Receberam a homenagem: Bernadete Figueiroa; Inaldete Pinheiro; Miranete Arruda; Padre Clóvis Cabral; Ana Paula Maravalho; Rebeca Oliveira; Vera Baroni; Cida Bento; Hédio Silva; Dora Lúcia Bertúlio; Cristina Buarque; Silvia Cordeiro; Major Lúcia Helena; Tenente Coronel Verônica; Maria Lúcia da Silva; Manoel Severino Moraes de Almeida; Aluísio Ricardo; Ricardo Teixeira Melo; Ronaldo Sales; e Fátima Onze Negras.   

20 Anos do GT-Racismo

 
Veja também, a reportagem feita pela TV MPPE
 

 

 

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ITAMARACÁ
MPPE obtém decisão judicial para garantir fornecimento de Canabidiol a criança com TEA
Imagem com laço colorido, símbolo do autismo

 

25/04/2024 - A Vara Única da Comarca de Itamaracá acatou pedido do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e deferiu tutela de urgência para determinar ao Município da Ilha de Itamaracá e ao Estado de Pernambuco que assegurem o custeio de tratamento de saúde a uma criança moradora da Ilha, diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA); Retardo Mental Moderado, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH); e Transtorno Opositor Desafiador (TOD), 

Conforme a decisão, deverá ser disponibilizado o tratamento pleiteado, que inclui a concessão do fármaco Canabidiol CBD Prati Donaduzzi de 50 mg/ml, na dosagem de 1ml, 2X/dia, de forma contínua, para o tratamento do comportamento agressivo da criança.

“A Neuropediatra que acompanha a criança há anos, após exames clínicos concluiu que ela tem tido uma piora no comportamento, e que mesmo tomando as medicações das quais faz uso diariamente, o quadro agressivo da infante tem aumentado, razão pela qual receitou o canabidiol”, explicou o Promotor de Justiça Gustavo Dias Kershaw, no texto na Ação Civil Pública.

“Compulsando os autos, constato que a prova documental trazida pela parte autora não deixa margem a qualquer dúvida quanto ao seu estado de saúde e a necessidade urgente da medicação indicada pelo médico que o assiste, a fim de que seja dado continuidade com o tratamento da doença”, pontuou o juiz de Direito José Romero Maciel de Aquino, na decisão judicial.

Será cobrado o pagamento de multa diária no valor de R$ 1 mil para o caso de descumprimento por parte da demandada.

ABREU E LIMA
MPPE promove audiência pública para discutir Educação Inclusiva nas escolas
Fotografia de participantes da reunião na mesa de honra
A audiência se fez necessária diante das muitas e constantes queixas de mães de alunos


 

25/04/2024 - A 3ª Promotoria de Justiça de Abreu e Lima promoveu, na última segunda-feira (22), uma audiência pública com o objetivo de discutir com a população, educadores, dirigentes de escolas, profissionais da área de saúde, especialistas em Educação e demais setores interessados propostas para a implantação de políticas públicas de inclusão, que possibilitem o atendimento especializado de crianças e adolescentes. A audiência ocorreu no auditório da Escola José Francisco Barros (Avenida Duque de Caxias nº 516) , no Centro do município.

De acordo com a Promotora de Justiça de Abreu e Lima, Liliane Asfora, a audiência se fez necessária diante das muitas e constantes queixas de mães de alunos de que o município não atende as demandas dos estudantes da rede pública de ensino que necessitam de atendimento qualificado. Atualmente, Abreu e Lima conta com quase 700 estudantes com algum tipo ou grau de deficiência, sem receber a assistência especializada devida. 

"Precisamos fomentar a atuação do poder público para fazer com que essas pessoas tenham os seus direitos plenamente assegurados. Iniciamos um ciclo de inspeções nas escolas de Abreu e Lima, o que, associado às frequentes demandas que nos têm chegado individualmente, nos permitiu observar que há muito o que se avançar na área da educação inclusiva em nossa cidade, tanto nas escolas públicas quanto nas privadas. Sabemos que os desafios existem, mas é preciso sair desse lugar comum, tratar o tema com a prioridade que ele merece e avançar", afirmou a Promotora de Justiça Liliane Asfora. 

O dirigente do Núcleo de Assistência Juntos pela Inclusão e representante dos pais de alunos, Amós Cardoso, apresentou parte do resultado de uma pesquisa realizada recentemente pela instituição que constatou que 62% das escolas municipais de Abreu e Lima não contam com professores AEE (Atendimento Educacional Especializado), 53% das unidades não oferecem atendimento escolar especializado e 32% não dispõem de atendimento terapêutico, além da falta de professores de libras e braile, e até a existência de salas de AEE sem acessibilidade. 

"As queixas chegam ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e imediatamente solicitamos providências ao município. Na maior parte das vezes,  a demanda é resolvida, ainda que não o seja de forma definitiva. Percebemos que é imprescindível para que haja um avanço efetivo que o tema seja tratado sob o aspecto macro, pois sem que sejam desenvolvidas políticas públicas  de qualidade, esse público continuará tendo seus direitos violados. Assim, precisamos esmiuçar o que a Secretaria de Educação de Abreu e Lima tem feito e o que será feito para assegurar  essas políticas públicas efetivamente inclusivas. Não basta apenas que as crianças e adolescentes tenham acesso à escola. É preciso muito mais, como equipamentos, alimentação diferenciada, atendimento assistencial e psicológico e professores capacitados para lidar com esse público que apresenta algum tipo ou grau de deficiência", completou a Promotora de Justiça Liliane Asfora. 

NOVA ETAPA - Depois de coletar informações mais detalhadas da situação no município, agora a 3ª Promotoria de Justiça de Abreu e Lima irá realizar algumas inspeções ainda pendentes e, de posse do relatório dessas vistorias, bem como do que foi colhido na audiência pública da última segunda-feira (22), será designada uma audiência com o prefeito do município para apresentar suas propostas e tentar avançar nessa pauta.
 

Audiência pública discute políticas de educação inclusiva nas escolas

CARUARU
MPPE promove momento de encontro com povos tradicionais
Participantes da reunião posam em pé para foto
Agentes públicos de Caruaru estão em fase inicial de desenvolvimento de políticas públicas referentes aos povos tradicionais

 

25/04/2024 - O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) recebeu, na terça-feira (23), um público superior a 90 pessoas na primeira edição do Encontro dos Povos Tradicionais de Caruaru: Fortalecendo Raízes e Conexões. O evento teve a participação de representantes de casas de terreiros, comunidades quilombolas, ciganos, indígenas, movimentos sociais, governos Municipal e Estadual, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e organizações sociais não governamentais.

Idealizado pela 6ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania de Caruaru, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos de Caruaru, Associação dos Povos Tradicionais de Pernambuco (APTA) e Associação de Povos de Terreiros de Caruaru (APTC), o encontro marcou uma manhã de diálogo e aprendizado sobre questões fundamentais para os povos tradicionais e sua interação com o poder público.

“Esse encontro, na verdade, é o ápice de um trabalho que a gente vem desenvolvendo aqui, em Caruaru, com os povos tradicionais. Inicialmente, eles haviam nos procurado a respeito de algumas demandas que tinham, como a questão de abordagens policiais, de uma certa intolerância da sociedade de uma maneira geral em relação aos povos de terreiro, a legalização dos terreiros em si. Então, o que é que a gente procurou fazer? A gente os ouviu, abriu o procedimento e começou a desenvolver uma série de encontros buscando explicar como seria o processo de regularização dos terreiros enquanto entidade religiosa, como se dá a formação dos policiais em relação à questão de Direitos Humanos e o tratamento aos povos tradicionais que tem acompanhamento por parte do MPPE. Outros pontos incluem a regularização do território de quatro comunidades quilombolas que temos em Caruaru e também de dois grupos do povo cigano. Hoje, os povos de terreiro contam com duas associações por eles formadas, que os representam em suas demandas, e um dos povos quilombolas se encontra em fase de reconhecimento governamental como descendentes de quilombos”, resumiu o Promotor de Justiça Itapuan de Vasconcelos Sobral Filho.

Ainda segundo ele, os agentes públicos de Caruaru estão em fase inicial de desenvolvimento de políticas públicas referentes aos povos tradicionais.

Programação: a primeira palestra foi ministrada pela Mãe Elza de Yemonja, cujo tema foi "A importância da regularização jurídica dos Terreiros na promoção da diversidade cultural e da liberdade religiosa".

A segunda palestra, ministrada pela Major da PMPE Lúcia Helena, teve como tema "Combatendo a intolerância religiosa: estratégias para promover o respeito e a compreensão entre diferentes crenças".

A terceira e última palestra tratou sobre o tema "O papel da Polícia Federal no combate aos crimes de ódio" e ficou a cargo de André Campos de Lavor, Delegado da Polícia Federal em Caruaru.

O encontro contou ainda com apresentações culturais do Grupo Flor e Barro, trazido pela APTC, e com cânticos de religiões de matrizes africanas performados pelo Zelador de Santo e Advogado Ivan de Airá e pelos representantes de religiões de matrizes africanas Kiambá de Logum, Iran Carvalho, Nanny Melo, Vinicius e Ju Melo.

No encerramento, os participantes assistiram a uma apresentação do grupo cultural Orí e Dança.

1° Encontro dos povos tradicionais de Caruaru

 

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